domingo, 26 de abril de 2009

Sessão

De todas as formas que poderia pagar, pelo que eu faço a mim mesma e aos outros.
É a pior de todas, viver em mim.
Vã filosofia essa, que guia a alma ao topo e ao abismo.
Vazio nada pensar, que me enriquece e me tira a vida.

De todas as formas belas em que eu poderia pensar.
Me entorpece a solidão. Mesmo num domingo de sol, um rio nos meus olhos desesperados.
Rio de delírio. Delírios de dezembro. Delírios da vida inteira.

"Vamos, diga-me o que te aflige! Eu quero escutar."
É meu dissimulado "sim".
É guardar-me em mim, irmão querido, e me atirar.

Todos os poetas que moram em você, podem sentir.
Todos os Augustos, Fernandos, Gregórios...
Eles sentem o cheiro póstumo que sai de mim.
Mas que você, pela sua própria boca sóbria, não ousaria pronunciar.

Magnânimo auto-flagelo.
Inexorável ignorância.

E assim continuamos morrendo:
Sozinhos.

- Juliana, sincera.


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"Toda criatura viva na Terra morre sozinha."
(Donnie Darko)

O pirata e seu navio fantasma.

Eu poderia vê-lo.
Se essa manhã tivesse nascido ontem.
Eu poderia vê-lo como se estivesse dentro de mim.

Se não fosse a mente correndo,
se não fosse meu pesar,
se não fosse toda a minha vida,
eu poderia vê-lo.

No meio da noite, na minha janela.
Eu posso vê-lo melhor.

Se não fosse esse frio,
se não fosse essa música triste,
se não fosse pelas lágrimas, que eu derramo agora
Escrevendo sobre você, que não vê, nem poderia...

Essa nota me lembra você.
E que nota me lembra à você?
E todas as notas, que me levam a você...
É meu sangue que pede, é minha alma que pede.

Todos esses cadáveres nunca me entederiam.
Todos esses cadáveres nunca me completariam.

E eu viro um corpo. À deriva na vida.
Esperando pela morte, que talvez não me leve a você.
Nem poderia!

Nossa paixão pelo nada, nos une mesmo entre dimensões.
Nossa paixão pelo exagero, nos completa em vidas diferentes.

O rei do deserto e a rainha da estrada:
Sozinhos. Completos. Perdidos.
Sem motivos pra sorrir, mas sorrindo.
Não necessariamente, pelos mesmos não-motivos
do resto do mundo-morto...

Sete palmos abaixo, quem sabe?
Um tiro, um trago e um drinque.

E nós dois, dentro de nós dois, por no mínimo mais dez eternidades.
(Secretamente...)

- Ju

liana viajando...

Rosa de fogo

Rosa de fogo;
Tal qual o eremita.
Rosa de fogo grita:
Eu morri!

A serpente e a águia:
Uma ao meu lado, e a outra também.
Definindo minha posição.
E a Rosa grita, alto:
Eu morri! Na prisão!

A lama bate, machuca, endurece, lama suja...
E na água turva, a Rosa mergulha;
E queima, e sofre, se afunda...
No que restou de suas próprias cinzas.

Rosa em chamas na multidão.
Rosa gritando alto.

Rosa morreu - há tempos atrás.

- Juliana.

Corpo de chão

Há quem prefira o chão.
Há quem o chão prefira.
Perfura e fere;
a alma, e a mente quase mata.

Há quem prefira o chão.
E o chão me escolheu.

Abre, pega o copo, finge...
Me dá o teu melhor sorriso,
O teu sorriso gelado...
Pra que todo mundo veja,
Que essa boca não serve pra teus ouvidos.
Me dá o teu sorriso gelado.
Me dá um tiro!

O chão eu prefiro,
E hei de nunca nele descansar.

- Juliana, no chão.