quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O quarto do fim

Eu não sei.
Quando pra cá me mudei, achei que tudo ia mudar.
E primeiramente, o canto que restou no meu novo lar,
era o quarto do fim.

Então, pois bem.
Meu quarto do fim.
Meu quarto do fim do mundo.
Que vê tantas coisas minhas, e coisas tantas, e tão poucas
que ele sabe, sobre mim.

Meu quarto, o final de mim.

Abro suas janelas, e ele deixa que a rua
converse comigo a noite toda.
O ônibus que passa, e grita.
O bêbado que passa, e grita.
O carro que passa, que bate, que gira,
o poste que cai, alguém que vomita e chora
por algum amor que não durou para sempre...

E quando minhas cortinas acordam, é hora de levantar.
E fechá-las, claro. Tempo sempre há.
Tempo pra tudo. O tempo que eu uso, dormindo com meu quarto.
E ele é gentil, não me desperta, não me chama
E eu deitada na cama, achando que todo tempo tenho.
E vejo a hora, e me levanto, correndo, correndo atrás da morte,
fora do meu leito de vida.

Ah, sua ingrata! Ah, como sou ingrata!
Passo a noite, e tranco a porta, e o largo só.
À qualquer hora do começo do dia, eu o liberto novamente, pra rua e pra mim e
bagunçado e hospitaleiro, meu quarto vira o mundo inteiro,
e de lá eu não saio nunca mais.

(Até que o tempo nos separe)

- Juzz

domingo, 16 de novembro de 2008

O Filho da puta

Eu estava deitada em meu quarto.
Acabara de sair do banho, minha pele ainda cheirava à doce fragrância do sabonete,e ele me aparece no quarto com uma garrafa de whisky na mão, e um cigarro na outra.

Mas que filho da puta!
Um filho da puta, eu pensei.

Enquanto eu, de costas, procurava o livro que estava lendo, num andar grosseiro e ébrio, ele arrastou-se até o som e logo em seguida Muddy Waters começou a reverberar por dentro da casa.

Sentou-se na cama e me olhou, com seus olhos de filho da puta desejando naquele momento que sua mãe fosse eu.

E ignorando o tempo que passei me banhando, e me cobrindo de doces perfumes, de perfumesde mulher, ele me agarrou, me agarrou com força.

- Seu filho da puta! Eu disse

E ele juntou meu rosto ao seu, sem dizer nada.Eu podia sentir seu cheiro de devassidão, de perto, me embriagando.

- Seu filho da puta...

E ele sorriu. Sorriu de um jeito sádico, perverso, doce...
E ignorando o tempo que passei me banhando e me cobrindo de doces perfumesroubei seu cigarro e sua garrafa, e me rendi.

E enquanto ele me arrancava a roupa com um olhar que prometia as coisas mais sórdidas disse:
- Hoje você vai ser minha mãe.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Comedora de notas

Enquanto o veneno tomava conta de nossos corpos ainda cobertos, pelas máscaras do nosso cotidiano tedioso e sem gosto eu olhava atentamente, sua boca abrir e fechar, e sorrir, e dizer qualquer coisa, que também me causasse a mesma expressão.

"Eu te amo"

Eu quis dizer. Mas não movi um músculo sequer.
Eu te amo. Eu te amo?

Eu sei quem você é. Eu sei o que você é.
E quando você faz as suas notas delirantes percorrerem pela casa, eu sinto que eu poderia comê-las.

Deglutir as canções, que você criou, para outra pessoa.
Mas que foram feitas pra mim.
Mesmo que você não saiba.

Eu consigo ver pelos seus olhos, brilhantes
que você também sabe disso.

Eu te amo.
Mesmo que você não saiba.

domingo, 19 de outubro de 2008

Medo

Tenho medo.
Medo de não ter aproveitado o breve tempo que me resta.
Medo de não ter saído na noite passada, e não amanhecer, simplesmente.

Ela me diz que o mundo não vai acabar hoje.
E eu abro um sorriso, mais desesperado que pleno.
E digo que sim, o mundo pode acabar hoje.

E são tantas coisas que destroem, meu amor.
O nosso amor pelas tantas coisas.

Você diz que eu não presto, que eu não sei viver.
E eu digo que você faz de conta.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Sem você


Hoje eu pensei no mundo sem você.

Perceber catastroficamente a inexistência de sentido - e pior
Não existir nada, que me faça querer continuar.
Não existir você, me anestesiando da dor de ser humano e estar vivo.
Não existir meu sorriso.
Não existir motivos.
Não existir.

Uma roda, louca. Onde eu pudesse ganhar qualquer coisa pra me consolar. Chorar. Como uma criança. E por fim aceitar, a vida sem você. A vida insípida que eu nunca vou desejar pra mim

Não suportaria.

Não sem você.


Eu quero você em tudo que faço.
Em tudo que eu sonho.

Eu quero você em mim.


- Juliana

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Rei Lagarto




O Lagarto Rei visitou minha mente

com seus poemas num lago ancestral.

Ele me disse coisas sobre a vida,

ele me disse "não acorde."


Dançando ao redor da fogueira,

chamando a rainha Miss Cal,

passamos a noite juntos

passamos a noite cantando.


Feche seus olhos e sinta, criança.

Abra seus braços, você pode estar em qualquer lugar.

Você pode ver todas as coisas!


Querida, não acorde!

Está muito frio lá fora

Aqui dentro é mais quente

Aqui é grande o suficiente pra nós dois


Eu não quero sair agora,

eu não quero ir embora agora

me deixe ir, me deixe ficar.



- Julie em homenagem ao maior poeta, artista e cantor, que consegue sempre me surpreender.

Vida, que queres?

Que queres de mim vida
com essas propostas indecorosas?
Que eu me atire em você
sem rédeas ou cordas?

Que queres tu, que me fizeste serva
do teu terror e da tua beleza?
Que eu me deixe embreagar, ficar bêbada
e que tão cheia de ti, eu fique lerda?

Logo eu, que sempre te fiz em mim
aos poucos e escondido, descarada e exagerada
Logo eu, minha amada?!

Que queres tu ao me encher
de esperança e alegria, tristeza e desalento
tudo no mesmo dia, tudo ao mesmo tempo?

Tu queres é que fique louca, louca de vez!
Gritar e me calar, chorar e sorrir
Então resolvi:
Louca serei, porque louca tu me fez.


- Juliana

domingo, 11 de maio de 2008

Canto pra minha morte

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir


Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar


Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque,
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada, E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?


Vou te encontrar, vestida de cetim
Pois em qualquer lugar, esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo, mas tenho que encontrar

Vem, mas demore a chegar
Eu te detesto e amo
Morte, morte, morte que talvez
Seja o segredo desta vida


Qual será a forma da minha morte
Uma das tantas coisas que eu nao escolhi na vida
Existem tantas... um acidente de carro
O coração que se recusa a bater no próximo minuto
A anestesia mal-aplicada, a vida mal-vivida
A ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido
Ou até, quem sabe,
O escorregão idiota num dia de sol
A cabeça no meio-fio Ah morte, tu que és tão forte!
Que matas o gato, o rato e o homem
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado
E que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem
Nos meus filhos
Na palavra rude que eu disse para alguém
Que não gostava

E até no uísque que eu não terminei de beber / Aquela noite...

- Raul

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Carol

Carol, menina bonita e sem cor
Seu problema é dar muito valor,
ao que não vale nada nessa vida

Carol, cê tá com mania de ianque,
de achar que shopping é palanque
e que moda só se faz lá em Paris
então me diz...

Que culpa tenho eu?
Se eu nasci brasileira,
se eu cresci escutando Raul,
se eu não sou sem cor, como você
sem amor

Carol, deixa de lado essa manha
Você não é quanto você ganha,
nem o salto alto que acabou de comprar

Pra a gente ser feliz, não precisa ter nome na lista
e eu prefiro gastar meu dinheiro no bar,
do que com analista!

- Juliana

Samba que eu fiz ano passado inspirada por uma cena muito feia que uma colega de sala protagonizou, e por todas as coisas que ela dizia também. Ofereço-a ao Vitor, meu lindo, que gosta bastante dessa música :)

domingo, 16 de março de 2008

The Doors - I will never be untrue

I will never be untrue
Do anything you would want me to
Never stay out drinking
no later than two
(two thirty...)

I will never treat you mean
and I won't cause no kind of scene
Tell you all the people
all the places I have been

I will always treat you kind
try to give you peace of mind
Only you tell me that you love me
one more time

Now darling
please don't be sad
Don't run off like that
when you get mad
Cause if you do
you gonna lose
the best friend
that you ever had
That's no lie...

- Mr. Mojo Rising

segunda-feira, 3 de março de 2008

thimk


não dê conselhos, isso é útil.

não ouça conselhos, isso é inútil.

South Bird

Pássaro inalcançável
seu ninho é tão longe

Pássaro bonito, que me faz sorrir
Eu quero escutar seu canto
no meu ouvido, sentindo o calor
das suas asas coloridas

Já é tão tarde, e você me disse boa noite
a algumas horas atrás, mas como espera
que eu durma depois de olhar seus olhos
cheios de verde e vida?

Eles me lembram sempre o mar, à noite
e a maré me levando num embalo suave
para as profundezas, para a imensidão
até você.

Meu passarinho
Eu sou covarde, eu não posso largar minha árvore ainda
eu mal sei voar, eu mal sei voar

Em breve eu largarei meu ninho para ir em sua direção
Eu juro que partirei logo, eu juro.

- Juliana