quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

O quarto do fim

Eu não sei.
Quando pra cá me mudei, achei que tudo ia mudar.
E primeiramente, o canto que restou no meu novo lar,
era o quarto do fim.

Então, pois bem.
Meu quarto do fim.
Meu quarto do fim do mundo.
Que vê tantas coisas minhas, e coisas tantas, e tão poucas
que ele sabe, sobre mim.

Meu quarto, o final de mim.

Abro suas janelas, e ele deixa que a rua
converse comigo a noite toda.
O ônibus que passa, e grita.
O bêbado que passa, e grita.
O carro que passa, que bate, que gira,
o poste que cai, alguém que vomita e chora
por algum amor que não durou para sempre...

E quando minhas cortinas acordam, é hora de levantar.
E fechá-las, claro. Tempo sempre há.
Tempo pra tudo. O tempo que eu uso, dormindo com meu quarto.
E ele é gentil, não me desperta, não me chama
E eu deitada na cama, achando que todo tempo tenho.
E vejo a hora, e me levanto, correndo, correndo atrás da morte,
fora do meu leito de vida.

Ah, sua ingrata! Ah, como sou ingrata!
Passo a noite, e tranco a porta, e o largo só.
À qualquer hora do começo do dia, eu o liberto novamente, pra rua e pra mim e
bagunçado e hospitaleiro, meu quarto vira o mundo inteiro,
e de lá eu não saio nunca mais.

(Até que o tempo nos separe)

- Juzz