quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Corpo Vazio

Eu sou papel e caneta e palavras.
Eu sou a melancolia da minha falta de coragem
Eu sou um vento forte dentro de mim,
e expulso orgãos, e veias e sangue.


Eu sou nada.
Eu sou um corpo vazio andando lépido
E não adianta trazer algo de volta
na automaticidade de um beijo,

ou na pretensão de suas mãos frígidas.

Sou oca.
Pele, osso e carne.
A seiva da sua alma secada pelo sol.

Eu sou seu corpo, tão vazio quanto o meu.



- Juliana

terça-feira, 7 de agosto de 2007

Mande-me para o Inferno

Me mande para o inferno então,
com sua espátula de flores que
fedem a mentira e a verdade,
um bem-me-quer de saudade,
nas asas de um demônio esperto.


Minha alma se transfere para,
um grito rouco e sem fim,
E você perto de mim,
com esse surrurar maldito e macabro,
querendo ser meu escravo,
querendo ser meu.

Vai! Me mandas para o inferno!
Com suas lágrimas envenenadas,
com gosto de vinho e cigarro.

Incendeio tua casa, tuas roupas, teu dinheiro
tuas gravatas, teu corpo, tua boca, minha boca,

essa cama e teus lençóis...
Há um laço de fita unindo teu coração ao meu.

Vou para o inferno contigo
e essa coisa medonha que tu chamas de amor.
Meu amor, seu amor,
nosso amor, só nosso.

No inferno e em qualquer lugar.



- Juliana

Santa Madre Cocaína

Renda-se.
Eu vim roubar suas esperanças,
seus sonhos e seus desejos.

Eu vim engarrafar sua coragem,
sua fúria e sua mente,
E te plastificar nessa figura demente,
de olhos claros e cegos,
de belas orelhas surdas.


Renda-se.
Eu trouxe a alegria em pó,
colorida e aromatizada, estrategicamente.


Renda-se.
Eu trouxe a salvação.
A sua e a de todos,
trouxe meus fiéis lobos,
para carcomerem suas idéias e pensamentos


E eu somente ri, diante de um dos delírios mais infames que já tive:
50g de cocaína cristã.




- Juliana

Levanta José

Tu querias o quê José?
Tua mulher, teu discurso e teu carinho?
Noites mais frias te espreitam,
mais bondes irás perder.
Já que não pode, beba.
Já que não pode, fume.

Fugir, mofar
e agora o quê, José?

Sua palavra perdeu a doçura,
nem febre, nem fome,
nem gula, nem jejum,
nem ódio, nem amor,
nem incoerência - e agora?

Sem chave, sem porta
sem mar, sem Minas
e agora o que farás José?

Gritar, gemer,
que importa tocar uma valsa

de Viena ou de Paris?
e agora José me diz,
o que queres?

Sozinho, sem nada, sem vida.
Viver como general ou alferes, tanto faz.
Não espere pela poesia José,
da mulher das pernas de louça
por quem vives a suspirar.
Levanta-te e anda José,
prá qualquer lugar.


- Juliana, cansada do Zé Estático

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Amor Parnasiano

Você vai sentir falta do cabelo,e do perfume, e da liberdade
Você vai sentir falta da sua loucura
e da sua mente alcoólica

Você vai sentir falta até mesmo

do cheiro de cigarro e de luxúria
E não a encontrarás em outros corpos,
em outros olhos

Você vai sentir falta
de sentir o sangue quente dela,
que corria da cabeça aos pés
e a fazia esquentar mais 4 ou 5 graus.

Você acha essa gentil e sã,
tudo que ela não era
Nessa você não encontra os vícios dela.
Nem os defeitos.
Essa? Essa é um doce!
Um doce parnasiano.

Mas ao doce, falta a pimenta e o tempero
e o sorriso salgado, de quem já foi doce,
e não mais liga se é, ou não amado.

Ao vencedor, as batatas(doces)!
Que logo te farão vomitar.
Não estás preparado ainda, para o amor livre
que não te acorrentará jamais.

Me curvo e aplaudo sua bela atuação republicana
de enamorar-se de um espécime tão perfeito e tão oco.


- Juliana

2.000 Km

"A distância diminui as paixões medíocres e aumenta as grandes, assim como o vento apaga as velas, mas atiça as fogueiras."

- Goethe

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Penso, logo resisto.

Olha! Olha como brilha o anel de ouro da menina rica
na capa da revista com sua beleza anoréxica e doentia
Olha! Olha como brilha o olho da menina pobre,
sonhando com seu anel e sua camisa.

Os novos sapatos de cristal, as novas fadas madrinhas.
Olha como brilha o ego e a insensatez!
Como brilha a ingnorância e a alienação!
Como brilha a sua gordura retirada na lipoaspiração,
tua parte, tua carne, num lixo de hospital.

E falam de nós, que não nos rendemos ao politeísmo cirúrgico
Nós que não rendemos ao culto de grifes
Ao modelo de figuras sórdidas, em um mundo lúdico,
onde são veneradas as maçãs.

Ela não sonha em mudar o mundo, ela quer ser rainha.
Suas roupas, seu dinheiro, sua chapinha...
Ela não almeja e nem aspira,
ela fraqueja e delira,
e quer transfundir poder para seu sangue de labuta
com um diamante, um carro e uma saia de puta,
para seu sucesso alcançar.

Pois eu me rendi, de corpo e alma, aos 'delírios' da minha mente,
para enxergar além do brilho do anel e do olho.
Sou a escória da sociedade contemporânea:
eu penso (logo resisto).


- Juliana